Minha metamorfose...

Eu sempre fui um mulherão, desde pequena era maior que as outras meninas... Meu corpo aos 9 anos já era corpinho de mocinha... aos 12 anos já tinha corpinho de 15, era magra, cinturinha fina, barriga chapada, pernão, quadrilzão, seios médios, ombros largos... Nunca fui magrinha, sempre chamei atenção por onde andava... Na adolescencia era realmente linda, era uma beldade de parar o trânsito... mas tudo mudou com um inesperado acidente de carro... Eu aos 14 anos ainda por completar perdi minha mãe em um trágico acidente de carro... Minha mãe que eu tanto amava, morreu aos 38 anos de vida, na BR 116 a tão conhecida estrada da morte... Foi ai que tudo mudou...

A morte da minha minha mãe foi uma grande perda, algo que para uma menina da minha idade, causou um grande vazio, uma lacuna que nada nem ninguém poderia preencher... Foi ai que passei a usar a comida como uma fuga, um consolo, uma espécie de muleta... Era como se comendo eu conseguisse diminuir a ansiedade e o vazio que sentia... No começo meu corpo não sofreu grandes mudanças, mas com o passar do tempo e os hábitos errados sendo repetidos por longos anos, meu peso começou a subir e as mudanças já eram nítidas...

Nessa época tinha um grande incentivador, meu avô um médico pediatra que tinha o hábito de andar todas as manhas no parque, foi ele que me convenceu a me cuidar, então comecei a fazer caminhadas de 15 km ao dia todas as manhãs ao lado dele...

Meu peso estabilizou e eu passei a me sentir mais animada, menos depressiva, as coisas pareciam estar voltando ao normal, mas depois de alguns anos meu avô, que me criou como um pai juntamente com a minha avó,descobriu que estava com câncer de próstata...

Depois de muita luta pela vida, de muito sofrimento o câncer finalmente o venceu e mais uma vez eu me vi perdendo alguém que eu amava...

Mais um grande vazio dentro de mim, que nada e ninguém teria como suprir... Mais um momento da minha vida em que permiti que meu vício por comida se apossasse de mim...

Voltei a comer para preencher o enorme vazio que tinha dentro de mim, e sem meu avô para cuidar de mim, passei a engordar mais e mais até chegar aos 85 kilos... Nessa época não queria fazer exercícios, nem andar no parque, então procurei um médico e comecei a tomar coquetéis de remédios, verdadeiras bombas para emagrecer...

eu consegui perder peso, com muito custo e vários efeitos colaterais cheguei aos 66 kilos, foi ai que me animei e me matriculei numa academia, e passei a fazer da atividade física como fuga, trabalhava e ia para academia e o resto do dia ficava ali, até sair exausta e me jogar numa cama sem ter tempo para pensar em mais nada...

Aos poucos fui mantendo meu peso, até que sem os remédios voltei a comer com a mesma compulsão de antes e meu peso subiu para 75 kilos, mesmo assim a atividade física me mantinha sem barriga, com corpo sarado; sempre tive facilidade para ganhar músculo e eu adorava uma musculação, então a balança não chegava a ser um problema...

Com a vida adulta, comecei a namorar e meus relacionamentos sempre foram baseados em dependência, carência, medo da perda, relações que me traziam grande dor e sofrimento, aquelas dores que achamos que vamos acabar morrendo por conta  delas e claro a comida anestesiava tudo aquilo.

Aos poucos fui ficando mais gordinha e por isso sofria uma certa rejeição, fui traída, abandonada, trocada e minha auto estima ficou cada vez mais baixa e eu cada vez mais gordinha...
Quando conheci meu marido estava numa fase melhor, pesava em torno de 71 kilos bem distribuídos, tinha um corpo bonito, era grandona, mais não tinha barriga, então era um mulherão perto dele que sempre foi magrinho, durante os primeiros dois anos de namoro, mantive meu peso, me sentia bonita mas perto dele me sentia grande, desconfortável, achava disproporcional, mas continuamos juntos até que engravidei e resolvemos nos casar; quando engravidei estava  com 85 kilos.
Na minha gestação descontei na comida, toda ansiedade do parto, do medo da relação a dois, do medo e da responsabilidade de ser mãe, sem contar do risco que corria por ser RH negativo e meu marido e minha filha RH positivo, tive uma gestação de risco, onde meu corpo a todo momento rejeitava a criança, o risco era ter que fazer uma transfusão total do sangue da minha filha ainda dentro da minha barriga; foram 9 meses terríveis, que encontrei na comida mais uma vez meu escape. Ao final da gravidez estava com 102 kilos, meu corpo havia se transformado completamente.

Tive uma filha linda, que nasceu perfeita pesando 3,960 kg com 1,49 cm, dei a ela o nome de Giovanna.

A maternidade foi algo poderoso na minha vida, ter alguém tão indefeso nos braços, alguém que dependia de mim para viver, a responsabilidade de criar, educar, formar um ser humano, me fazia sentir um amor imenso e um medo tão grande quanto o próprio amor, foram tantos sentimentos misturados, uma explosão de emoções, de sentimentos tão intensa que não consegui ficar indiferente, acabei com uma depressão pós parto. Eu tinha o céu e o inferno dentro de mim... Estava no meio do olho do furacão eu e minha bebê e eu agarrada a ela, tetando protege-la e aos mesmo tempo sendo tão forte e tão  frágil...
Virei a super mãe, a super mulher, a super dona de casa e esqueci completamente da mulher que havia dentro de mim... Me abandonei na busca de cuidar deles, esqueci de me cuidar, perdi minha identidade e não era mais a carolina, era a mãe da Giovanna, a esposa do Anderson... Virei apenas uma sombra... Uma imagem borrada no espelho...

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